Foi há pouco tempo que ganhei coragem e disse o «sim»a um desejo já antigo!
Quando é que comecei a escrever?
Podia ter uma resposta maravilhosa para esta pergunta, mas, na verdade, não tenho… Sinceramente, não faço a mais pequena ideia quando é que comecei a gostar das palavras escritas!
Terá sido na infância?
Tenho no meu álbum de fotografias – feito, com muita dedicação, pela minha mãe – algumas histórias que imaginei e escrevi quando era miúda. Convenhamos… não são propriamente umas obras primas. Lembro-me que tinha grande dificuldade em dar um fim às histórias que inventava. Resolvia esse dilema sem grandes complicações: simplificava o final e matava todas as personagens! Uiiiiii… antes que alguém se lance em mil e uma interpretações, asseguro-vos que até à data nunca fui invadida, na vida real, por instintos assassinos!
Tenho também guardados vários diários de bordo de viagens que fiz com os meus pais – alguns datilografados numa máquina antiga de escrever! – cheios de colagens e de descrições detalhadas dos nossos dias. Guardo-os com muito carinho e, de tempos a tempos, folheio-os. É sempre de valor saber o que comi ao pequeno-almoço em agosto de 1986
Talvez enquanto fui estudante universitária?
Estudei psicologia e muitos anos mais tarde – num acesso de loucura que me soube tão bem! – voltei à faculdade para me tornar professora do ensino básico. Os professores adoravam atolar-nos de trabalhos e eu sempre tive a grande preocupação de escrever frases legíveis com princípio, meio e fim; com vírgulas e pontos finais no devido lugar. Antes das entregas, torturava a minha mãe durante horas sem fim – que paciência a dela! – para que me ajudasse a rever o texto e a melhorá-lo. Aprendi imenso com ela – tem o dom da palavra escrita! – e ainda hoje, com 91 anos, é uma das revisoras dos meus manuscritos. Obrigada, Mami!
Diários, também tive alguns. Amores e desamores que ficaram imortalizados no papel. Conquistas e choradeiras… Vou poupar-vos aos detalhes!
Foi durante a minha vida profissional?
Ao longo da minha carreira profissional como neuropsicóloga, dediquei-me à escrita científica, um estilo completamente diferente ao da escrita literária. Pesquisas bibliográficas, estudos de casos clínicos, resultados de investigações fizeram-me passar várias noites em branco à volta das palavras.
A minha vida deu, no entanto, umas tantas reviravoltas e já faz algum tempo que deixei a psicologia. Se me arrependo? Não. Se sinto falta da escrita científica? Muito sinceramente, também não…
Afinal, quando é que me lancei na escrita literária?
Quando me mudei para a Suécia!…
Já não era uma gaiata, mas disse para mim mesma: «És uma miúda de garra. Nunca é tarde para nada!»
O desejo de escrever um livro era já antigo e foi aqui, neste país distante onde agora vivo, que decidi que ia dedicar uma parte do meu tempo às palavras.
Seria muito mais cool dizer que cheguei à Suécia cheia de boas energias. Na verdade, não foi bem assim… Cheguei à Suécia muito triste, em sofrimento, a tentar lidar com uma série de perdas que se atravessaram no meu caminho.
A escrita começou por ser uma tábua de salvação, um refúgio. Tornou-se uma boa amiga, sempre presente, que, sem me pedir nada em troca, me levava gentilemente para uma outra dimensão. Aos poucos comecei a ter o desejo de prolongar a sensação de bem-estar que advinha desse momento de fuga. Por isso, durante muito tempo, roubei horas ao estudo do sueco – uma língua dos infernos! – para me perder entre as palavras. E isso fez-me tão bem!
De repente, dei por mim a escrever um livro. O meu primeiro livro! De repente, dei por mim apaixonada e soube que a escrita passaria a fazer parte da minha vida.
Escrever é, para mim, um enorme prazer. Nem sempre é fácil. Exige tempo, dedicação, trabalho, paciência. Exige silêncio. Exige um voo que se eleva ligeiramente acima da realidade, que plana sobre as nuvens. Eu adoro essa viagem!