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Rui Sousa

17/05/2024

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Na literatura infanto-juvenil, escritor e ilustrador caminham lado a lado e, juntos, dão vida a um novo livro. As palavras dão origem às ilustrações e as ilustrações fazem vibrar as palavras!

É com uma grande estima que vos apresento o Rui Sousa, o ilustrador do livro «Salvas por um Fio!». Agradeço-lhe imenso o testemunho e a partilha da sua experiência.

Quem é o Rui Sousa?

O Rui é natural de Valongo. Licenciou-se em Artes Plásticas / Escultura na Universidade de Belas Artes do Porto.

Trabalha, desde 2007, em diferentes vertentes da área criativa, tendo ateliers no Porto e em Valongo.

Para além do seu trabalho como artista plástico, desenvolve projetos na área da ilustração e do design. Colabora ainda com entidades como o IPO do Porto, a Ala Pediátrica do Joãozinho (Hospital de São João) e as Associações Ajudaris e Acreditar.

Rui… como é o seu coração? O que o faz vibrar?

Gosto de saber que aqueles que me são próximos estão bem e continuam presentes na minha vida. Isso é, sem dúvida, o mais importante!

Gosto de desporto. Sou viciado! Pratico desporto diariamente e preciso dele quase tanto quanto preciso de ar para respirar.

Adoro caminhar, correr na montanha… Adoro passar uma ou duas semanas numa caminhada, em boa companhia, sem preocupações com as horas!

Adoro música… de a ouvir e de a tocar. Se não fosse artista plástico, seria músico, sem qualquer sombra de dúvida!

O meu coração é feliz com coisas simples…

Ah! E gosto da cultura japonesa, nomeadamente da cultura e da escrita Kanji.

Como foi o primeiro contacto com o «Salvas por um Fio!»?

Adorei o conceito da história: uma abordagem bastante simples e criativa de uma situação «corriqueira» do dia-a-dia, à qual foi associada uma mensagem importante de amizade e de inclusão. Até com as coisas mais simples podemos criar enormes transformações e mudar atitudes!

Qual é a sensação de dar vida a um novo livro?

A experiência é sempre positiva. No passado, já tinha ilustrado outros livros, embora – confesso – ilustrar o «Salvas por um Fio!» tenha sido mais desafiador e motivador.

Foi-me permitido ter uma liberdade criativa quase total. Para quem faz ilustração infantil é ótimo. Não fui apenas o ilustrador. Tive a liberdade de opinar e sugerir algumas alterações na composição e estrutura do livro. Desta forma, senti-me mais «próximo» da história.

Como foi o processo de criação das ilustrações do «Salvas por um Fio!»?

Eu começo sempre por ler e analisar a história. Depois de ter feito uma pesquisa de imagensesboço as personagens e os cenários, tentando, através de desenhos rápidos e simples, estudar expressões, formas, cores e posições dos elementos nos cenários.

Este é um processo longo. Aliás, o processo criativo é, por vezes, bem mais demorado do que o desenho das imagens finais. Este é a etapa que me dá mais prazer na ilustração de um livro. Por vezes, faço centenas de desenhos na procura da melhor versão!

No livro da Clara, dar vida e corpo às personagens foi muito estimulante. Humanizar as meias foi, sem dúvida, um desafio!

Assim que tenho tudo estruturado, dou início à criação final das ilustraçõesDesenho-as e pinto-as à mão. Se necessário, podem, depois, ainda ser sujeitas a pequenas alterações, tendo em conta a estrutura do texto ou a paginação do livro.

Como correu o trabalho de equipa com a designer?

Correu muito bem! A Sara Fonseca, para além de uma excelente profissional, é uma amiga de longa data. Temos colaborado em imensos projetos e conseguimos, muito facilmente, conciliar ideias. É sempre um trabalho muito fluído. Conhecemos muito bem a forma de trabalhar um do outro. Normalmente, o que um pensa, o outro já pensou!

E quando o livro ficou pronto?

Ver o livro terminado e nas nossas mãos é muito prazeroso! Adorei. O produto final ficou como eu o tinha idealizado, embora, como prefecionista que sou, acho sempre que ficou a faltar algo… Mas, fiquei, sem dúvida, muito feliz com o resultado final.

Ficou com mais cabelos brancos depois de ter ilustrado o “Salvas por um Fio!»?

A Clara foi sempre uma pessoa bastante acessível e muito aberta às minhas opiniões. Sempre respeitou o meu trabalho criativo. Adoro sentir essa liberdade criativa, sentir que a minha opinião conta e é ouvida.

Além de ser uma pessoa super simpática e muito humana, a Clara sempre demonstrou uma capacidade de organização muito boa. Apesar das suas certezas em relação ao que gostaria para o livro, foi sempre muito receptiva, nunca deixando de aceitar as opiniões e mudanças sugeridas por mim e pela Sara.

Neste livro, senti que estava a fazer um trabalho para uma amiga e não senti a «barreira do cliente». Senti-me parte do livro e não um mero executante.

Como é ser ilustrador em Portugal?

Apesar de fazer trabalho como ilustrador, a minha atividade principal são as artes plásticas, nomeadamente a pintura e escultura. A ilustração surge pelo meu gosto pela ilustração infantil. É um trabalho que faço com muito gosto quando surge a oportunidade.

Em Portugal, qualquer actividade artística é difícil. Há muita falta de conhecimento, de compreensão e de respeito pelas actividades artísticas. Estas continuam a ser vistas como algo secundário… quase como um hobby. A ignorância é latente e constante. E por mais experiência, competências e formação que um artista tenha, nunca é visto com o respeito que merece…

Felizmente, nos últimos anos tenho trabalhado bastante com clientes estrangeiros e, com eles, sinto que o meu trabalho é mais respeitado e valorizado!